sexta-feira, 27 de agosto de 2010

É dia
Açoite
É noite
Magia

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quando a gente escolhe amar

Que tal amar, meu amor?
Somos um casal imperfeito
Nós dois fomos feitos pra nós dois
São tantos os delitos
São tantas as paixões
Que tal amar, meu amor?
Nós dois fomos feitos pra nós dois
Somos um casal imperfeito
São tantos os defeitos
Entre tantas diferenças
Só nos resta uma sentença
Escolher o amor...
Que tal amar, meu amor?
Escolhi amar teu nome, Adolfo
Escolhestes amar minha rima: Batata matraca
Escolhi amar teu medo da chuva
Escolhemos o amor pelo amor
Pela imperfeição
Pela espera frustrada
Pela falta de ligação
Pelo ronco de madrugada
Pela boca aberta na mastigação
Pela roupa amassada
Pelo chinelo quando a ocasião pedia sapato social
Pela chatice
Com todos os defeitos
Pra todos os efeitos
Escolhemos nos amar

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ARTE É AQUELA COISA SUBJETIVA QUE ENVOLVE A GENTE E DIZ PRA CADA UM UMA COISA DIFERENTE...
Carlos Drummond de Andrade




Poesia


Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Motivo (Cecília Meireles)

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Poema em linha reta

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.